Retiros


Para se aprofundar na prática da meditação é muito importante fazer retiros. Um retiro é uma oportunidade de abandonar todas as tarefas e obrigações mundanas para focar única e exclusivamente na investigação da realidade da experiência. É esta investigação realizada com esforço e diligência que leva aos insights que libertam, chocam, surpreendem e purificam a mente. Não há nenhum segredo nem pré-requisito especial - basta se esforçar para seguir as instruções.

Iniciantes geralmente tem algumas dúvidas sobre retiros que merecem ser abordadas:

É preciso ser buddhista para participar de um retiro de prática?
Definitivamente não. Buddha é visto como um professor, médico, instrutor, etc. mas não como uma divindade. Devoção e submissão não são esperados de ninguém. Espera-se apenas uma certa abertura e disposição de seguir as instruções de prática e conduta.

É melhor começar com um retiro curto, certo?
Nem sempre. É melhor molhar apenas os pés na água ou mergulhar de uma vez? Um retiro de dez dias pode ser um bom começo para qualquer um.

Eu nunca estive em um centro de meditação ou mosteiro e estou apreensivo, pois tenho medo de não dar conta.
Você não é o primeiro e nem será o último. Todos passam por isso. Fique tranquilo e lembre-se de viver um dia de cada vez, um momento depois do outro. Um retiro geralmente tem 3 fases: adaptação, prática concentrada e transição de volta para a vida diária. Faça o melhor que puder sempre e isso deverá ser o bastante!

É possível me sentar em uma cadeira durante o retiro? Preciso levar minha própria almofada?
É uma boa ideia escrever para o centro antes e se informar sobre a disponibilidade de almofadas. Se você necessitar de uma cadeira, avise com antecedência e isso não será um problema.

Posso levar minha própria comida?
Geralmente não; a menos que você tenha alguma condição alimentar específica. Nesse caso é necessário conversar com o gerente do centro sobre a possibilidade de preparar seu alimento separadamente. Poucos centros possuem instalações que possibilitam o preparo e armazenamento de alimentos individualmente (e.g. Refúgio da Floresta do IMS).

Onde devo praticar?
Ao escolher um local para um retiro é importante observar que centros de meditação geralmente estão vinculados a alguma tradição e tem particularidades com relação ao ensino, técnica, rotina, código de conduta e custo de manutenção.

Enquanto a maior parte dos centros vive de doações, outros tem custos mais elevados de manutenção e precisam cobrar valores fixos (geralmente negociáveis). O código de conduta pode ser flexível ou rigoroso e exigir a adoção de apenas cinco preceitos (abstenção de matar, roubar, atividades sexuais, conversar e de utilizar intoxicantes) ou ainda de preceitos adicionais (se abster de dormir em excesso, ingerir alimentos sólidos após o meio-dia, cantar, dançar e escutar música). A rotina pode ter horários fixos pré-estabelecido nos quais todos praticantes devem estar presentes para uma sessão de meditação ou palestra, ou pode ser inteiramente individual e variar de acordo com o dia. Por fim, a maior parte dos centros e professores de meditação se especializam em apenas uma técnica de meditação e orientam os alunos de acordo com ela. As orientações de prática podem ser específicas e passo-a-passo ou gerais e do estilo "descubra você mesmo" (o que evidentemente irá acontecer em ambos casos!).

Antes de escolher um determinado centro, reflita sobre seus objetivos específicos e procure se informar sobre o que é oferecido. Se o objetivo for apenas ter uma primeira experiência de um retiro de meditação buddhista, existem amplas possibilidades de escolha. Se você desejar se aprofundar e progredir até estágios específicos de meditação do insight, dê preferência a retiros de pelo o menos dez dias de duração em um centro que ensine um método adequado para esta finalidade (e.g. método Mahasi ou Goenka); ao contrário, se você preferir cultivar antes a habilidade de acalmar, estabilizar a mente e alcançar estados profundos de concentração (jhanas), é preferível escolher um centro com melhores condições de silêncio e solidão e ter mais tempo disponível para permanecer em retiro - pelo o menos um mês. Monges e professores da tradição da floresta estarão mais aptos a te direcionar em práticas (e.g. anapanasati, metta, kasinas, etc.) para esta finalidade.

Ao procurar se informar sobre centro de meditação com outros praticantes é importante separar as informações objetivas da experiência subjetiva de cada um. Muitas pessoas podem avaliar negativamente um centro ou professor apenas por terem atravessado uma experiência difícil durante um retiro. Entenda a dinâmica de evolução na prática de meditação (lendo os outros textos sobre o assunto, principalmente "o progresso do insight") e se prepare psicologicamente para lidar com os obstáculos de modo tranquilo e equânime. Uma queixa acerca da falta de estrutura de um centro para a realização da prática de meditação andando é válida e deve ser ponderada: devo buscar um outro centro ou posso me comprometer a tentar realizar um retiro de meditação sentado com apenas um breve intervalo de caminhada a cada hora de meditação?

Seja qual for a decisão, aprecie a oportunidade fantástica de ter tempo e condições de se desenvolver nessa técnica milenar; cultivando calma, clareza e foco, gerando benefícios para todos os seres próximos e distantes.

Algumas dicas para a prática de retiros:

Lembre-se de como é preciosa a oportunidade de estar em um retiro de meditação
Então não desperdice essa oportunidade. Raro é nascer humano, ainda mais raro é praticar meditação. Mais raro ainda é ter motivação, tempo, condições financeiras e políticas de estar em um retiro. Você é um(a) dos poucos(as) que tem condição de realmente entender aprender esta prática e perpetuá-la. Lembre-se disso quando as coisas estiverem difíceis e você estiver sentido pena de si mesmo(a).

A sua prática é mais importante
Independente do que estiver acontecendo ao seu redor no retiro, do professor ser é simpático ou não, das condições do local, da comida ser boa ou ruim, etc. Seu progresso vai depender da precisão, consistência e abrangência da sua atenção à realidade sensorial. Isso é o que realmente importa.

Siga as instruções
A menos que você esteja sendo explorado de algum modo, quando estiver em um retiro escute com atenção as instruções dos professores e dê o melhor de si para segui-las. A maior parte das pessoas ignora instruções muito simples como: perceba as sensações que fazem parte da respiração. Como é de se esperar, elas sairão do retiro sem ter aprendido nada. Não seja uma destas pessoas.

Relate seus esforços para o professor
Quando tiver a oportunidade de encontrar com o professor, individualmente ou em um grupo pequeno, relate cuidadosamente as suas tentativas de seguir as instruções. Um exemplo: "eu entendi as instruções do seguinte modo... tentei fazer isso do melhor modo que pude, e tive as seguintes dificuldades... aprendi isso... e consegui isso... como posso praticar melhor? "Não perca tempo relatando o conteúdo dos pensamentos e das dificuldades. Pois você deve...

Evitar a todo custo se perder no conteúdo de seus pensamentos
Passar tempo na almofada de meditação pensando sobre experiências difíceis, traumas de infância, relacionamentos problemáticos, situações do trabalho - sem poder fazer absolutamente nada sobre isso no momento - tem apenas o efeito de tornar as pessoas mais neuróticas e, possivelmente, levar à percepção de que fazer isso o dia inteiro não leva a lugar nenhum. Traga sua mente sempre de volta ao objeto de meditação e siga as instruções.

Não machuque suas costas e joelhos
Respeitar o próprio corpo físico é parte de uma espiritualidade saudável. Se sentir dores na articulações, converse com o professor sobre a postura.

Evite projeções sobre colegas de retiro
É muito fácil começar a imaginar coisas sobre seus colegas de retiro, sobre os quais você sabe muito pouco ou nada. Mesmo nas raras ocasiões nas quais você acerta, não vale a pena perder tempo com este tipo de passatempo enquanto você pode estar praticando meditação. Note estes pensamentos e sensações físicas quando surgirem e volte a praticar.

Não se preocupe se outras pessoas não estiverem sorrindo para você
Em retiros algumas pessoas fazem contato visual e sorriem, enquanto outras parecem irritadas e prestes a explodir a qualquer momento. Isso não tem nada a ver com você. Continue a praticar e não se preocupe com os outros. Não é seu trabalho salvar nem punir ninguém, mas apenas continuar praticando.

Perceba que aprender e crescer envolvem trabalho duro
Estudar para uma prova ou concurso exige esforço e dedicação para adquirir novos conhecimentos e desenvolver novas habilidades. Do mesmo modo, aprender a meditar não é fácil: você será forçado a crescer, aprender e será tirado de sua zona de conforto. Alguns desafios terão que ser superados e então outros irão surgir. É a vida, e não é fácil.

Perceba que onde existem pessoas existem problemas
Ao invés de tornar o problema maior ainda, você pode ser um bom exemplo. Não dê importância para desentendimentos sobre terminologia, filosofia, costumes, cerimônias, etc. Você não pode impedir outras pessoas de comportarem-se de modo infantil, mas pode se abster de fazer o mesmo.

Faça retiros mais longos
O nível de concentração e capacidade perceptiva gerados em um retiro superam muito o que é possível na vida diária. Para a maior parte das pessoas, é preciso um mínimo de cinco dias para elas se acostumarem ao local e à rotina de prática.

Mire alto
A maior parte das pessoas parece não acreditar na possibilidade de realmente alcançar estados profundos de consciência e os insights descritos nos textos antigos. No entanto, a verdade é que não há mistério. Basta seguir às instruções e praticar bem. Nunca duvide da sua habilidade de acessar e desenvolver as suas próprias capacidades. O segredo de uma prática espiritual com objetivos é perceber que ela envolve compreender o que está presente aqui e agora.

Não se leve muito a sério
e lembre-se de se divertir no processo.
Com trechos adaptados de um texto em alemão de Dielter Baltrasuch disponível em Retreat-Infos.de Para maiores informações sobre centros e mosteiros da tradição Theravada no sudeste asiático confira seu respeitável levantamento disponível para download em inglês e alemão; ou a wiki de centro de retiro do DhO. Dicas para a prática de retiros retiradas de um texto de Daniel Ingram, disponível em http://integrateddaniel.info/retreats/


Alguns lugares para fazer retiros:


Buddhismo Theravada

Principal centro para o estilo mahasi de prática na Europa. Altamente recomendado.

Centro de prática estilo mahasi na Califórnia

Retiros de 10 dias realizados periodicamente ao longo do ano. Recomendado para iniciantes que não tenham experiência prévia de retiro (porém não é recomendado permanecer apenas nessa tradição, visto que é difícil - se não impossível - ter acesso a bons professores nela).

Conta com dois centros de retiro diferentes e um centro de estudos. O Forest Reffuge funciona 365 dias por ano e é recomendado para praticantes avançados que procuram por excelentes condições para praticar. Os retiros do centro principal lotam rápido.

Centros de Meditação Vipassana na Ásia
Para maiores informações sobre centros de meditação Vipassana na ásia, consulte o excelente levantamento do RetreatInfos.de

Spirit Rock (EUA)
Centro de meditação fundado por Jack Kornfield na Califórnia.

Chom Tong Insight Meditation Center (Tailândia)
Tambon Ban Luang, Amper Chom Tong, Chiang Mai 50160 (email)

Doxos (República Tcheca)
Centro de meditação estilo Mahasi no leste Europeu.

Fundado pelo Ven. Saydaw U Pandita, discípulo do Ven. Mahasi Sayadaw. Em Lumbini no Nepal.

No Brasil
Nalanda (MG)
Centro em Belo Horizonte que organiza encontros semanais de prática e, eventualmente, algum retiro (curto) de prática.

Centro em São Paulo que organiza encontros semanais de prática e, eventualmente, algum retiro (curto) de prática.
Buddhismo Tibetano

Organiza retiros de transmissão Mahamudra todo ano, além de cursos e workshops de curta duração.

Buddhismo Zen

Templo Pico de Raios (Ouro Preto, MG)
O Pico de Raios está de volta à ativa. Excelente opção para quem vive em Belo Horizonte.

Mosteiro Eishoji (Pirenópolis, GO)


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