Este texto pretende estabelecer uma hierarquia e
apresentar a essência da prática de Vipassana tal como ela se desenvolve em um retiro de
meditação. Nada impede, no entanto, que um praticante dedicado e diligente
consiga desenvolver este tipo de concentração na prática diária.
Seria bom começar do fim, mesmo que apenas para
manter os objetivos em mente: Você está buscando o Insight da Conformidade, Insight
#12, o qual surge uma compreensão simultanea de duas das três características de
todo o campo da experiência, incluindo espaço, consciência e tudo mais contido nela como um todo integrado.
Isso é o mínimo onde
você deve mirar se estiver buscando a entrada na correnteza, e o mesmo
parâmetro funciona bem para os estágios subsequentes à entrada na correnteza.
No entanto, voltemos ao início, onde todos
começam, e para onde a maioria retorna, apenas para começar novamente:
#1 Nem ao menos tentando praticar, perdido em pensamentos, distraído e com pouca atenção plena
#2 Pouca atenção plena e perdido em pensamentos, mas ao menos tentando alguma técnica mesmo que sem muito sucesso
(as pessoas perdem retiros inteiros neste nível.)
#3 Capaz de seguir as instruções de algum modo, como notar, varrer o corpo, ou ainda outra técnica diferente.
(não busco enfocar aqui uma técnica específica, mas a essência das coisas. Basicamente qualquer técnica, objeto e postura que o faça crescer nesta hierarquia e o mantém lá é o que importa; e nada das especificidades do objeto que você está utilizando ou da postura escolhida fazem diferença contando que sirva a este objetivo fundamental.)
#4 Capaz de realizar uma prática de vipassana ou conjunto de técnicas com poucas interrupções
#5 Capaz de fazer isso sem interrupções.
#6 Capaz de perceber diretamente as três características dos objetos centrais da atenção diretamente e com consistência, independentemente de uma técnica específica.
(se você pode fazer isso, naquele momento e pelo tempo que durar, se você usa uma ou outra técnica, ou nenhuma, é irrelevante.)
#7 Capaz de perceber continuamente e diretamente as sensações que compõem o pano de fundo da experiência na luz clara da atenção de vipassana, significando uma compreensão direta das três características.
(desta vez não apenas dos objetos predominantes, mas também do prazer, equanimidade, medo, dúvida, frustração, análise, expectativas e outras sensações periféricas; igualmente de outros objetos, assim que surgem, como pensamentos e emoções, bem como do objeto(s) primário(s); pressupondo que você esteja utilizando algum (o que não é mais necessário neste ponto).)
#8 Ser capaz de realizar o item #7 muito bem e adicionar processos centrais, como as sensações que compõem atenção, intenção, memória, esforço, espaço, consciência, aceitação, medo sutil, e tudo que parece compor um "eu" ou "sujeito observador" em todo o corpo – incluindo crânio, pescoço, peito, abdômen, etc - em uma atenção sincronizada com os fenômenos surgindo e que engloba e penetra tudo instantaneamente com clareza
#9 Capaz de realizar #8 naturalmente, sem nenhum esforço
#10 Estamos de volta onde começamos: capaz de compreender simultaneamente duas das três características de todo o campo da experiência, incluindo espaço, consciência e tudo mais contido nela como um todo integrado.
Se seguem: "mudança de linhagem", "obtenção do caminho" e "fruição".
#2 Pouca atenção plena e perdido em pensamentos, mas ao menos tentando alguma técnica mesmo que sem muito sucesso
(as pessoas perdem retiros inteiros neste nível.)
#3 Capaz de seguir as instruções de algum modo, como notar, varrer o corpo, ou ainda outra técnica diferente.
(não busco enfocar aqui uma técnica específica, mas a essência das coisas. Basicamente qualquer técnica, objeto e postura que o faça crescer nesta hierarquia e o mantém lá é o que importa; e nada das especificidades do objeto que você está utilizando ou da postura escolhida fazem diferença contando que sirva a este objetivo fundamental.)
#4 Capaz de realizar uma prática de vipassana ou conjunto de técnicas com poucas interrupções
#5 Capaz de fazer isso sem interrupções.
#6 Capaz de perceber diretamente as três características dos objetos centrais da atenção diretamente e com consistência, independentemente de uma técnica específica.
(se você pode fazer isso, naquele momento e pelo tempo que durar, se você usa uma ou outra técnica, ou nenhuma, é irrelevante.)
#7 Capaz de perceber continuamente e diretamente as sensações que compõem o pano de fundo da experiência na luz clara da atenção de vipassana, significando uma compreensão direta das três características.
(desta vez não apenas dos objetos predominantes, mas também do prazer, equanimidade, medo, dúvida, frustração, análise, expectativas e outras sensações periféricas; igualmente de outros objetos, assim que surgem, como pensamentos e emoções, bem como do objeto(s) primário(s); pressupondo que você esteja utilizando algum (o que não é mais necessário neste ponto).)
#8 Ser capaz de realizar o item #7 muito bem e adicionar processos centrais, como as sensações que compõem atenção, intenção, memória, esforço, espaço, consciência, aceitação, medo sutil, e tudo que parece compor um "eu" ou "sujeito observador" em todo o corpo – incluindo crânio, pescoço, peito, abdômen, etc - em uma atenção sincronizada com os fenômenos surgindo e que engloba e penetra tudo instantaneamente com clareza
#9 Capaz de realizar #8 naturalmente, sem nenhum esforço
#10 Estamos de volta onde começamos: capaz de compreender simultaneamente duas das três características de todo o campo da experiência, incluindo espaço, consciência e tudo mais contido nela como um todo integrado.
Se seguem: "mudança de linhagem", "obtenção do caminho" e "fruição".
Perguntas Frequentes
Faz diferença o objeto que uso?
Apenas se algum objeto ajuda você a permanecer
acima dos patamares mais baixos desta hierarquia, e de preferência, a progredir
nela.
Faz diferença se minha concentração/foco for
aberto ou fechado?
Se você pode focar exclusivamente na respiração e compreender as sensações que compõem
tanto a respiração quanto o aparato perceptivo (a atenção), isso é tudo o que você
precisa entender. Se você não consegue focá-la, mas alcançou, através de um esforço diligente,
uma fluência
em uma variedade maior de outras sensações, então um foco aberto funcionará tão bem quanto.
Faz diferença a técnica que uso?
Eu diria para usar qualquer técnica, foco, objeto, postura
e qualquer outro fator que precise ser alterado - em qualquer medida necessária
- para ajudá-lo a subir na hierarquia e
permanecer lá. Isso é uma postura pragmática com relação à Vipassana por oposição à uma tradicionalista. Se uma abordagem
tradicionalista ajuda você a progredir na hierarquia, então não há
conflito algum. Se a abordagem tradicional não estiver ajudando você nesta hora, mês, ano, então tente alterar
alguns fatores, e de preferência com a ajuda de um bom professor - se houver um disponível - e veja
se ajuda.
Quando devo parar de notar e apenas prestar
atenção?
Você pode definitivamente parar quando estiver em #6 ou acima, mas também pode continuar,
contando que isso não o atrase ou limite sua habilidade de perceber o que esta
surgindo em sua totalidade.
Qual técnica é melhor: notação, varredura, koan ou outra?
O que quer que ajude você a progredir e se
estabilizar acima do níveis mais baixos da hierarquia. Mas note: técnicas levam tempo
para serem aprendidas, então, continuamente abandonar uma técnica mal aprendida
por outra não irá trazer benefício algum; contudo, se tiver aprendido bem algumas técnicas, utilize
qualquer uma que ajudar. Para a maior parte das pessoas, este é um processo dinâmico e não-linear,
com muitos altos e baixos na hierarquia. Aprender a mudar o foco e a abordagem
assim que for necessário é uma habilidade a
ser aprendida através de prática e vigilância constante. Ter os objetivos em mente ajudará nesta tarefa.
Um exemplo: digamos que você está utilizando
notação lenta e consistente e
alcançou o estágio 2 do insight, "Causa e
Efeito", mas uma dor nas costas começou a dificultar sua vida e suas
tentativas de progredir ao estágio 3 ("As 3 Características"), e
durante este período você reverteu a uma prática ineficiente. Você
poderia refletir: “Ah, eu não consigo mais notar bem, mas eu deveria pelo o
menos tentar notar lentamente e possivelmente escolher atentamente uma postura
diferente que não seja tão dolorosa por algum tempo.”
Supondo que
notando você alcance o estágio das 3 Características e
comece a perceber fenômenos
energéticos,
calor e kundalini, que são
rápidos demais para notar. Neste ponto você poderia
refletir: “Ah, a varredura do corpo que eu aprendi com o Goenka naquele último
retiro funcionou muito bem da última vez em que estive neste estágio. Talvez eu
devesse tentar e ver como funciona agora.”
Você pode estar indo fundo no insight #4, "Surgir e Passar",
percebendo com agilidade e diretamente vibrações rápidas e pequenos padrões
de interferência, até chegar no insight #5 (Dissolução). Logo sua prática está novamente
fora dos trilhos e você sente que está distraído o tempo todo. Você
poderia refletir: “Eu estava indo bem no "Conhecimento do Surgir e
Passar", mas agora a prática caiu de volta no fundo do poço. Talvez eu
devesse tentar notar lentamente novamente até me erguer e poder perceber
diretamente novamente – o quer será melhor do que me debater inutilmente contra
mim mesmo.” É um bom plano!
No estágio da "Equanimidade com relação às formações", mas ainda sem conseguir alcançar uma Fruição, você poderia se
perguntar: “Quais processos centrais, sensações sutis no primeiro e segundo
plano, ou outros padrões da experiência eu ainda não consegui trazer à luz como tantos
outros objetos?” Deste modo
você poderá ver o que está faltando, e aprender perceber
estes novos objetos naturalmente também.
Trabalhando desta forma é possível ter uma ideia de como proceder para acomodar o que está acontecendo e continuar navegando o fluxo de mudanças que a prática de Vipassana, em todas as suas formas, proporciona.
Texto: Daniel Ingram
Tradução e adaptação: BCDAV
Trabalhando desta forma é possível ter uma ideia de como proceder para acomodar o que está acontecendo e continuar navegando o fluxo de mudanças que a prática de Vipassana, em todas as suas formas, proporciona.
Texto: Daniel Ingram
Tradução e adaptação: BCDAV
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